sábado, 20 de outubro de 2012

Como foi o primeiro encontro do grupo de estudos de cultura, literatura e marxismo

Terça-feira, 27/10,  realizamos a primeira sessão do grupo de estudos. Contamos com estudantes de letras, ciências sociais, pedagogia e filosofia.
 
Nesta primeira sessão discutimos as expectativas de cada um sobre o que pensamos que deve ser o grupo, qual seu objetivo, seu método, sua razão de existir.
 
Além de partirmos de um acordo de que o marxismo encontra pouquíssimo espaço na academia, discutimos que quando ele está em nossos currículos é muitas vezes castrado de seu potencial transformador. Como disse um dos participantes, é muito conveniente para a academia "fatiar" o marxismo, colocando-o ora como uma teoria econômica, ora como uma análise sociológica, ora como um método epistemológico e crítico. Mas sempre extirpando-o de seu propósito essencial: ser uma teoria a serviço da transformação da realidade, do combate à sociedade de exploração e miséria em que vivemos. Outro participante disse que seus professores colocam insistentemente que o propósito do marxismo é combater a alienação, e afirmou que isto é uma falsificação. Disse que o propósito do marxismo é fazer a revolução, e lembrou a célebre tese XI das "Teses sobre Feuerbach", em que Marx afirma que os filósofos se limitaram a interpretar o mundo, e o que se trata é de transformá-lo.
 
Foi neste espírito que os participantes do grupo discutiram que não podemos nos limitar a apenas discutir a teoria marxista em abstrato ou a utilizá-la para analisar as obras do cânone literário da academia. Que precisamos utilizar para aplicá-la à nossa realidade. A partir deste elemento levantaram-se diversas perspectivas.
 
Questionar o cânone e o currículo é questionar o papel da universidade e da literatura na sociedade, o papel destas instituições sociais em uma sociedade dividida em classes. Estamos fundando um grupo de estudos que reivindica uma teoria para a transformação radical da sociedade em uma das universidade mais elitistas do país, que mantém de fora a juventude trabalhadora, o povo negro e todos os setores explorado e oprimidos da sociedade. Que produz um conhecimento para legitimar o status quo, com a finalidade de formar quadros tão importantes para a burguesia como Fernando Henrique Cardoso.
 
Queremos discutir o que é a literatura e qual seu papel nesta sociedade como parte de uma dominação ideológica. Queremos questionar nossos currículos, nossos cursos, nossa universidade. Queremos abrir um debate sobre a indústria cultural e a arte "elevada" da academia, a posição cínica que a intelectualidade se coloca para não enfrentar o fato de que a sua produção não é mais do que uma mercadoria - e ainda por cima desnecessária para a reprodução do capital - portanto, uma perfumaria. Essa postura arrogante se revela sobretudo em seu desprezo pela literatura comercial (Paulo Coelho ou Dan Brown), pela novela da rede Globo, enfim, pelo que costumamos chamar de "indústria cultural", responsável pela reprodução da ideologia burguesa no seio das massas trabalhadoras.
 
Queremos questionar, desde o marxismo, os grandes nomes que estabeleceram os paradigmas sobre os quais estudamos. Queremos nos apropriar de forma crítica da discussão colocada pelos muito que já contribuiram para a discussão sobre arte, estética e cultura a partir do marxismo, como Maiakóvski, Benjamin, Adorno, Luckáks, Brecht, Trotsky e tantos outros.
 
Para além de colocar esta trincheira ideológica marxista no árido terreno da academia, queremos produzir. Produzir crítica, produzir debate, produzir teoria, produzir arte, produzir reflexões e intervenções na vida. O cartaz do grupo trazia a imagem de um martelo, inspirada na frase de Maiakóvski que diz que a arte não deve ser um espelho da realidade, mas um martelo para forjá-la. Nós queremos um grupo que não apenas estude e reflita sobre a realidade, mas que intervenha nesta e sirva como uma ferramenta para transformá-la.

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